terça-feira, 15 de setembro de 2009

O regresso à alimentação em tempo de aulas

Outro artigo que achei deveras muito interessante!
Paula Veloso 2009-09-02

É preciso ser firme e impor regras na alimentação tal como se faz em relação a qualquer outra área da educação dos filhos. A educação alimentar deve fazer parte integrante da formação de qualquer indivíduo e os pais nisso têm um papel crucial.


Setembro é o mês das "rentrées" praticamente em todas as áreas: na política, nos tribunais, no trabalho e também na escola. Todos nós, durante o período de férias, tivemos oportunidade de reparar como, em cada ano que passa, o excesso de peso e a obesidade atingem um maior número de pessoas. Eu fui duas vezes à praia e, achava eu, devido à minha formação ou deformação profissional, saltou-me à vista um número incontável de crianças e adultos obesos. Mas dois grupos de amigos (insuspeitos) que me visitaram após terem passado alguns dias no Algarve vinham atónitos não só com o número de pessoas gordas mas sobretudo com o grau de obesidade das mesmas, que em muitos casos apresentavam já dificuldade em sentar-se em cadeiras normais. Muitas vezes é a família inteira, em que as crianças estão obviamente incluídas. Se é certo que a tendência para se engordar se herda, também não é menos verdade que se herdam sobretudo os hábitos alimentares da família. Porque, como tenho frisado várias vezes, não são os genes que provocam o aumento de peso mas um balanço energético positivo, o que é o mesmo que dizer que só engordamos se comermos mais calorias do que aquelas que o nosso organismo precisa. Por isso, em países onde os alimentos escasseiam não há gordos, pese embora muitos dessas pessoas possuam certamente tais genes na sua constituição física. E se os mais velhos fizerem um exercício de memória de 20, 30 ou mais anos, terão dificuldade em lembrar-se de muitas pessoas obesas nas suas relações de amizade... Na realidade, só há pouco tempo a OMS declarou a obesidade como uma epidemia (do século XXI) e só agora muitos investigadores professam que esta poderá ser a primeira geração a morrer antes dos pais. Como mãe, mas sobretudo como educadora e cidadã, compete-me alertar educadores, pais, Estado, empresas e sociedade em geral para as consequências a breve ou médio prazo dos erros que estão agora a ser cometidos. Daí, mais este artigo, porque penso que nunca é de mais lembrá-lo.


Muitas medidas estão a ser tomadas a nível governamental para corrigir a alimentação das crianças durante o período em que estão na escola, até porque muitas crianças fazem a maior parte das refeições no espaço escolar ou nos cafés e restaurantes que as circundam. No entanto, se não houver colaboração da família na mudança de atitude e dos hábitos alimentares da família, não será possível evitar que as crianças engordem ou percam peso quando disso necessitam. É preciso ser firme e impor regras na alimentação tal como se faz em relação a qualquer outra área da educação dos filhos. Tal como o dinheiro muitas vezes não é suficiente para satisfazer exigências ou caprichos para uma nova consola ou um telemóvel de terceira geração, também o dinheiro não consegue comprar a saúde ou a vida. Por isso, a educação alimentar deve fazer parte integrante da formação de qualquer indivíduo e os pais nisso têm um papel crucial.


Cada vez mais preocupada com a situação, aqui deixo algumas sugestões como um pequeno contributo para ajudar a travar este flagelo crescente que é a obesidade infantil:


- Insista na necessidade de tomar o pequeno-almoço que inclua lacticínios, pão, cereais ou equivalente e, se possível, fruta. Omitir o pequeno-almoço aumenta o desejo de alimentos mais calóricos durante o dia bem como impede a ingestão recomendada dos nutrientes indispensáveis.


- Se a criança não tem fome logo ao acordar - muitas vezes é a pressão da saída e não falta de fome - obrigue-a a levar pão com queijo ou fiambre ou bolachas sem açúcar, uma banana, um queijinho, um pacote de leite, um iogurte líquido ou um sumo de 100% fruta, para comer durante o trajecto para a escola.


- Como merenda da manhã, algo semelhante ou 20-30g de frutos secos (nozes, avelãs, amendoins, etc.), um iogurte ou um pacotinho de leite.


- As refeições "principais", almoço e jantar, deverão iniciar-se com um prato de sopa de legumes e incluir fruta, sobretudo se não a comem entre elas. Quando a criança tem muito apetite ou não gosta de fruta, dê-lha a seguir à sopa, antes do prato principal ou como acompanhamento do mesmo.


- O lanche deverá ser semelhante ao pequeno-almoço e o segundo lanche, sempre que o intervalo entre o primeiro e o jantar for superior a quatro horas, um pouco mais pequeno como um iogurte com meia peça de fruta ou 3 colheres de cereais, por exemplo.


- A água é a bebida que devem encontrar no frigorífico na generalidade dos dias. O leite também, mas só deve ser consumido nas refeições referidas e nunca como água, para matar a sede.


- Não proíba nenhum alimento. Ofereça os que sabe serem menos saudáveis apenas ao fim-de-semana, com parcimónia.


- Icentive a prática de exercício físico (jogar a bola, andar de skate ou patins, saltar a corda, nadar, dançar, etc., etc.) pelo menos trinta minutos por dia.


- E não se esqueça que quer as compras quer as refeições à mesa ou fora dela quer a actividade física dependem sobretudo dos pais e do seu exemplo!



PS - a imagem não faz parte do artigo... e é apenas exemplificativa... não tenho nada contra hamburgures (desde que não sejam cobertos de molhos e acompanhados de fries e refrigerantes...) :) Tal como a Paula Veloso diz no artigo, não se deve proibir nenhum alimento :)

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